Depois do almoço de domingo,
Masamune coloca calças e uma camisa larga vai até a praça como de costume,
levando o seu caderno de desenho e seu estojo, senta-se abaixo de uma árvore e
começa a desenhar. Logo depois de preencher duas páginas, o rapaz para de
desenhar, seus pensamentos não conseguiam mais focar-se em seu caderno de
desenho. Ele apenas guarda seu lápis dentro do estojo, coloca-o a cima do
caderno ao seu lado esquerdo no chão e deita-se observando o céu por entre as
folhas da árvore. No momento, as coisas que estavam acontecendo se passam pela
sua cabeça como se tivessem ocorrido a muito tempo, porém, não eram menos
importantes nesse momento.
Ele
ouve passos cautelosos se arrastando pela grama de onde estava deitado, tomba
sua cabeça para o lado direito, já sabendo de quem eram aqueles passos. Yuki para ao seu lado com roupas leves e
cabelos bagunçados por não estarem amarrados e pergunta.
-O
que está fazendo?
-Observando
o céu. E você?
-Apenas
segui o seu cheiro.
-Essa
história de “cheiro” de novo? – Olha para ele rindo – o meu é tão bom assim?
-Bom
ao ponto de levar qualquer um a loucura. – Murmura – Você deveria arranjar uma
marca o quanto antes.
-Marca?
Não obrigado – Yuki deita-se ao lado de Masamune e olha para o céu.
-Está
colocando sua vida em risco.
-E
não estamos todos? Antes de abrir os olhos pela manhã até antes de fechá-los
pela noite, não estamos em um perigo constante?
-....
– Suspira – Você é complicado.... Ah, e me desculpe pelo o que aconteceu na
enfermaria naquele dia..... E pelo o que aconteceu na educação física.
-Não
se preocupe com essas coisas.... Não foi sua culpa.
O
sol brilhava intensamente, porém, a sombra feita pela árvore em que ambos
estavam a baixo fazia o clima ficar fresco e as nuvens bem mais bonitas de se
ver. Os dois ficam por alguns minutos apreciando a paisagem em silêncio, como
se estivessem em um mundo particular repleto do som da natureza e um clima
agradável. Masamune lembra-se do animal da última vez e fica pensativo quando
pergunta.
-Sobre
aquele animal......
-O
que tem?
-Já
conseguiu acha-lo?
-Não
consigo rastreá-lo. Fiquei quase a noite toda circulando essa praça com três
familiares de Lewis, mas, não conseguimos nada. – Suspira.
-Se
você procurar por terra, realmente será complicado, mas, um animal daquele
porte.... Não deve haver tantos lugares assim para se esconder.
Yuki
tem um estalo, se levanta rapidamente e sai correndo. Masamune se senta e o
observa correr para a via. Ri um pouco e olha para suas mãos.
-Me
pergunto se meu cheiro é tão forte assim...? – Procura algo em seu estojo, pega
um estilete, coloca a parte afiada na mão esquerda e faz força com a direita
arrastando a parte afiada em sua mão – odeio essa parte – Ao ver o sangue,
Masamune se levanta abrindo e fechando sua mão e observando o movimento ao seu
redor, quase escasso, pois, as pessoas não costumavam andar por aquela parte da
praça – Não custa nada tentar – Com dor.
-.... – Yuki para de correr bruscamente
fungando – por que diabos o cheiro dele está mais forte?! – Corre de volta para
o local que estava antes.
O
lobo marrom aparece em meio as árvores babando e rosnando para Masamune, esse
que ergue suas mãos e observa o animal, que estava da sua altura, em posição de
ataque. Masamune não desvia seus olhos dos do animal, não expressa medo ou
qualquer outro sentimento além de seriedade, devido ao fato de por ainda estar
claro e ele conseguia ver nitidamente o que estava a sua frente. Por mais que
tentasse, Masamune não via um lobo feroz e isso o faz ficar um pouco confuso.
-Calma....
– Masamune fala – Você precisa manter a calma – Sente seus olhos e sua testa
arder – está vendo esse sangue? – Mostra sua mão sangrando com calma – Não é
isso que quer, você precisa conversar comigo antes de mais nada, só que para
isso você tem que se acalmar…. – O lobo ameaça avançar, porém, Masamune avança
mais um passo olhando nos olhos dele – eu não vou te machucar.
Yuki
grita ao ver a situação e corre mais rápido para chegar perto.
-Masamune!
-Isso
– Faz um sinal com a mão direita para Yuki como se pedisse que ele se
tranquilizasse por 1 minuto, ele diminui a velocidade e se aproxima devagar –
não foi sua culpa, nada do que aconteceu antes foi! Você precisa retomar o
controle, nós dois sabemos que você não é totalmente uma fera.... – Se abaixa
devagar – Você está confuso, tudo parece tão novo e diferente – Senta-se no
chão – Mas, não está tão diferente assim, não é mesmo?
Yuki
fica apreensivo. O lobo ainda rosnando avança mais alguns passos em direção de
Masamune, esse que levanta a mão para Yuki ao perceber que ele iria se meter.
-Vai
ficar tudo bem... – Estende os braços para o lobo – Não foi sua culpa.
O
lobo para de rosnar e diminui caminhando para o colo de Masamune até ficar do
tamanho de um cachorro normal. Ele lambe o rosto do rapaz durante alguns
segundos e deita no colo dele, Masamune se diverte com as lambidas e faz
carinho nele com a mão limpa.
-Quem
aqui é um bom garoto?! – Fazendo carinho no lobo.
-Você....
– Vira o rosto de Masamune para si e percebe que seus olhos e sobrancelhas
estavam brancos e retornando para a cor original – Você.... – Desacreditado.
-Eu
pensei que iria funcionar e – Olha para o Lobo – Funcionou.
-Geralmente,
nesse estado, eles não ouvem ninguém além de seus instintos selvagens... – Não
acreditando no que estava vendo.
-Você
fica maior que ele.... Parando para pensar.
-Fico
bem maior do que viu, dependendo da raiva que me consuma no momento.
-Então
a raiva faz você se transformar?
-Qualquer
sentimento em exagero nos faz transformar.... Mas, a raiva é um gatilho bem
mais rápido. – Pega o lobo do colo de Masamune.
Masamune
recolhe o seu material e percebe o lobo brigando com Yuki para que o solte.
-Ele
não vai mais voltar aquele tamanho – Vê o lobo vencendo e indo para o seu lado
enquanto se levanta.
-Como
sabe?
-.....
– Da de ombros – Algo me diz isso.
-Masamune,
você sabe... – Olhando fixamente nos olhos do rapaz – os seus olhos.....
-O
que tem eles? – O vento fica mais forte e o sol começa a se por.
-....
– Olha para a floresta sentindo uma presença, o lobo também olha na mesma
direção e começa a rosnar – Nada.... Acho melhor você cuidar do ferimento.
-Pode
cuidar dele por mim – Aponta para o lobo e começa a caminhar.
-Sabe
que não podemos ficar com ele, não é? – Começa a segui-lo e o lobo corre para
caminhar ao lado de Masamune.
-Ah,
desse tamanho ele não é um perigo para ninguém, não seja mal.
-Ele
matou alguém para estar preso nessa forma, isso não te preocupa?
-Só
por alguns dias! – Olha para o rapaz com os olhos pedintes – Por favor.
-Masamune!
– Suspira – Você sabe que o que fez foi muito perigoso, não é?
-Eu
não sabia até tentar.
-Se
me deixar te marcar, eu dou um jeito para ficar com o cachorro.... – Masamune
se vira para ele assustado – É pegar ou largar.
-E
como pretende me marcar exatamente? – Yuki não responde e apenas cora – Não
obrigado.
Yuki
suspira, o deixa em casa e leva o lobo malcriado para o seu quarto. Em casa,
Masamune deixa sua mão embaixo da água corrente da torneira da pia da cozinha
pensativo.
-Querido
– Maya fala ao ver a mão do garoto – O que aconteceu? – Pergunta procurando o
kit de primeiros socorros.
Comentários
Postar um comentário